sexta-feira, julho 01, 2016

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Ser Jornalista é... 
Ser Jornalista é saber persuadir, seduzir. É hipnotizar informando e informar hipnotizando. É não ter medo de nada nem de ninguém. É aventurar-se no desconhecido, sem saber direito que caminho irá te levar. É desafiar o destino, zombar dos paradigmas e questionar os dogmas. É confiar desconfiando, é ter um pé sempre atrás e a pulga atrás da orelha. É abrir caminho sem pedir permissão, é desbravar mares nunca antes navegado. É nunca esmorecer diante do primeiro não. Nem do segundo, nem do terceiro... nem de nenhum. É saber a hora certa de abrir a boca, e também a hora de ficar calado. É ter o dom da palavra e o dom do silêncio. É procurar onde ninguém pensou, é pensar no que ninguém procurou. É transformar uma  simples caneta em uma arma letal. Ser jornalista não é desconhecer o perigo; é fazer dele um componente a mais para alcançar o objetivo. É estar no Quarto Poder, sabendo que ele pode ser mais importante do que todos os outros três juntos.
Ser jornalista é enfrentar reis, papas, presidentes, líderes, guerrilheiros, terroristas, e até outros jornalistas. É não baixar a cabeça para cara feia, dedo em riste, ameaça de morte. Aliás, ignorar o perigo de morte é a primeira coisa que um jornalista tem que fazer. É um risco iminente, que pode surgir em infinitas situações. É o despertar do ódio e da compaixão. É incendiar uma sociedade inteira, um planeta inteiro. Jornalismo é profissão perigo. É coisa de doido, de maluco beleza. É olhar para a linha tênue entre o bom senso e a loucura e ultrapassar os limites sorrindo, sem pestanejar. É saber que entre um furo e outro de reportagem haverá muitas coisas no caminho. Quanto mais chato melhor o jornalista.
Ser jornalista é ser meio metido a besta mesmo. É ignorar solenemente todo e qualquer escrúpulo. É desnudar-se de pudores. Ética? Sempre, desde que não atrapalhe. A única coisa realmente importante é manter a dignidade. É ser petulante, é ser agressivo. É  fazer das tripas coração pra conseguir uma mísera declaraçãozinha. É apurar, pesquisar, confrontar, cruzar dados. É perseguir as respostas implacavelmente. É lidar com pressão, pressão de todos os lados. É saber que o inimigo de hoje pode ser o aliado de amanhã. E a recíproca é verdadeira. É deixar sentimentos de lado, botar o cérebro na frente do coração. É ser frio, calculista e de preferência kamikaze. É matar um leão por dia, e ainda sair ileso. É ter o sexto sentido mais apurado do que os outros, e saber que é ele quem vai te tirar das enrascadas. Ou te colocar nelas.
Ser jornalista é ser meio ator, meio médico, meio advogado, meio atleta, meio tudo. É até meio jornaleiro, às vezes. Mas, acima de tudo, é orgulhar-se da profissão e saber que, de uma forma ou de outra, todo mundo também gostaria de ser um pouquinho jornalista. Parabéns a nós!









Fonte:
 [ Sandro Miranda ]  
Sou um daqueles jovens estudantes de Jornalismo meio metidos a besta que acham que podem mudar o mundo com suas ideologias.

A ESSÊNCIA DO JORNALISMO






Por Nei Duclós
dez/2010
Não, não é a informação. Se fosse, seria espionagem ou diplomacia. A essência do jornalismo é a divulgação, a transparência da informação. Divulgar não está na agenda da espionagem, que trabalha com o segredo, ou da diplomacia, que trabalha com segredo de estado. O jornalismo é o anti-segredo. É isso que pega. Seu único segredo é a própria fonte. Pode ser divulgada ou não.
O jornalismo cria uma relação entre a abundância da fonte e a escassez da síntese, da seleção. Dá trabalho. Mata cedo. É profissão de risco, como cortador de luz na favela ou alimentador de ursos fora da temporada de salmão. Mesmo no wikileaks, que joga toneladas de informação no ar, há edição. Quando o jornalista consegue, causa um terremoto. Por isso o jornalismo virou uma vernissage. Divulgar informação editada é muito perigoso.
Não fosse o Washington Post, Watergate seria apenas um edifício, e não fosse Caco Barcelos a Rota, prima-irmã do Bope, seria apenas uma milícia heróica e não uma matadora serial de inocentes, como foi provado no livro “Rota 66”. Quem está na cola do Bope? Jornalista sacudidor de cabeça afirmativamente enquanto a fonte discorre a resposta é que não. O jornalismo não é para sabichões, isso é outra atividade, a consultoria da auto-ajuda.
A abordagem das fontes implica dois enfoques. Um é a fidelidade das falas, quando declarações ou soluções de narrativa de quem emite a informação são utilizadas no texto do jornalista. Outra é a traição das falas originais, um recurso eficiente para evitar que a prolixidade da fonte, suas descosturas ou falta de objetividade, atrapalhem a reportagem. É preciso então mudar, tecnicamente, o que foi dito, para que o resultado não traia a pauta.
Fica difícil de entender para quem não é do ramo. Muitas vezes, você precisa modificar a maneira como foi dito para que haja fidelidade ao que foi realmente dito. Nem sempre o que é falado ou escrito representa ou reproduz fielmente a intenção da fonte. É preciso modificar para respeitar a fonte. A não ser quando ela não mereça respeito. Tivemos exemplos recentes com Dilma e Lula. Dilma acusou o meio ambiente de prejudicar o desenvolvimento sustentável e Lula, ao defender (na fachada) o Wikileaks, exigiu que as pessoas se manifestassem contra a liberdade de expressão. Deitei e rolei sobre isso porque não vou dar vez para esses mal intencionados que tomaram conta do poder. Mas o fato é que eles quiseram dizer o contrário. Os jornais, subservientes, fizeram a correção sem se referir ao erro, eu não. Encarei como ato falho: disseram o que realmente pensavam.
Quando uma fonte comete algum desastre na sua narrativa e isso é reproduzido “fielmente” pode causar estrago. Quando necessário, deve-se “trair” a fonte para não contrariar suas intenções. Essas coisas passam por desvio de conduta, mas fazem parte da essência do jornalismo. Quando as redações tinham gente qualificada, isso era tirado de letra. Hoje, época de legenda para cego, de reproduções de BOs no lugar de reportagens e de transcrições de falas oficiais, coisas que inundam os veículos de comunicação, fica difícil saber onde a coruja pia.
O importante é saber que o jornalista não pode ser o tosco reprodutor de falas selecionadas nas fontes pelas assessorias de imprensa, nem o pauteiro de frescuras e amenidades, nem o assassino do verbo, nem o trucidador de soluções clássicas da língua, nem o perseguidor de madonas ou o farejador de perfumes das celebridades. É preciso resgatar a essência do jornalismo, quando tínhamos apenas uma caneta e um bloco de papel dobrado no bolso da calça.
Nem precisa ipad, ipod, ipud ou iped. Basta saber fazer, já que os caminhos, digitais ou não, sobram por toda parte. O que vale é conseguir a informação, acessá-la, editá-la e divulgá-la, com qualquer recurso. E todo mundo quer uma boa reportagem, como a premiada “Artur tem um problema”, de João Moreira Salles, sobre o matemático brasileiro Artur Avila e que foi publicado na revista Piauí. É assim que se faz.
Fonte:
http://www.consciencia.org/neiduclos/a-essencia-do-jornalismo